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Mostrando postagens de setembro, 2022

A cantora

Lá estava cantando músicas eternas, choros de amor e modismos do rádio, aos amigos imaginários que lhe pediam estrofes com molho ao prato. Sem vontade, cresciam sua boca e olhos ao ver que a olhavam, esperavam que seus lábios combinassem notas num crescendo interminável, ao som do conjunto. Lembrava  aquele amor tão frágil, com fervor, de como  estremecia diante dos dedos longos daquele homem, criança inocente. Seu caráter em quatro paredes, o medo da solidão, do ridículo, coisas insossas que lembravam o vazio, a insatisfação de ouvintes-dançarinos, que ignoravam seu profundo palpitar. Tão carente como as bichas que por ali apareciam e sumiam, bobos da noite. Perseguia, feito eles, com passos invisíveis, homens e mulheres nas ruas sem saber por que.  Cantava boleros, tangos em borbotões de vogais, naquela noite. Trabalhava a voz rouca lentamente no palco pobre. A bebida passando. Os copos tilintavam no espaço lânguido do bar. Pensava nos olhos sombrios e ardentes do amante. Quando pela