Boacronica

Todas nós mulheres concordamos que buscamos o desejo masculino, através do olhar , das roupas que escolhemos todo dia para sair as ruas. É vero que muitas das vezes nem precisamos tanto desse olhar, que nos bastamos, mas isso não dura pra sempre. Volta e meia estamos lá querendo esse desejo.Nossa mente anseia por isso.Pela imensidão do olhar do outro, pelo seu silencioso querer. Trata-se de um processo milenar , anscestral e natural. Olhamos uma fruta e queremos prová-la. Enquanto nosso corpo ainda exalar um resquício de frescor e juventude , e a libido pulsar mesmo que entre dentes ficaremos felizes se alguém quer nos tocar ou se aproximar. Dai surgem as famosas metáforas de mulheres frutas. Porque somos frutas. Frutas que querem ser comidas e degustadas. Desejamos que nos queiram. E quando já não somos olhadas e desejadas compensamos com outros saberes. Mas ser fruta não é ruim.O ruim é transformar a própria personalidade num todo carnudo ser-fruta, mulher-melancia, pera, maçã, ou b

O que faz alguém ficar ou ser deprimido? Até hoje ninguém sabe. Mas geralmente a depressão é considerada um luxo, um luxo triste. Um luxo solitário e doloroso. Quem sente não consegue entender porque sente essa tristeza infinita , essa falta de graça nas coisas, essa falta de encanto pelas pessoas, essa irritação permanente. Acredito inclusive que grande parte das pessoas é deprimida e não sabe. Porque as sociedades de consumo produzem essas sensações terríveis de mutismo e apatia.Depois surgem os remédios. Fica impossível hoje em dia uma alegria verdadeira. Tudo é muito efêmero.Poucos conseguem extrair dela algo mais do que explicações desta mistura de vazio e desinteresse. Parece que quem a sente já nasce marcado e precisa lutar duas vezes mais para engrandecer a alma.

Alguém havia lhe dito outro dia: você precisa de um beijo na boca pra acabar com essa tristeza. Fez pouco achando a visão imediatista. A vida não poderia se resumir a um simples toque. Será que como na fábula tudo se transformaria ao toque de midas ? Depois de alguns dias resolve encontrar um amigo virtual.Com ele havia mantido virtuais conversas eróticas de grande excitação . Encontram-se. E envolvidos em boa conversa, bebendo vinho em um bar, o moço lhe dá um beijo nos lábios. Há um ano Rita não beijava ninguém. Por absoluta incompetência social.Mulher madura e atraente.O ex agora amigo virtual mostrava-se loquaz e culto, queria ir para a praia a noite para seguir a conversa. Atitude adolescente. Ela recusou o convite. Achava ridículo ficar aquela hora da noite feito criança se pegando na areia da praia.Mas aquele beijo de desejo foi infinito.A vida de Rita no dia seguinte parecia mais bela. Ela havia sentido naquele beijo uma doçura nunca experimentada.

Hoje quando vinha pela rua um grupo de jovens na faixa de vinte e poucos anos vinha caminhando a minha frente alegre. Vestidos com roupas juninas pois estávamos em época de festas. Uma das moças falava ao telefone celular com outra dizendo "... estou falando aos meus pais que vou dormir na tua casa em Itaipava tá?". A moça estava instruindo a amiga sobre a mentira que estava dizendo ao pais. E falava com uma naturalidade tão fácil como se dissesse "...quando sair não esquece de bater a porta !" Mentiras: serão parte irreversível da relação de paternidade dos novos tempos?A menina ordenava alegramente para a amiga que certamente já estaria acostumada com isso, que mentisse sobre onde estaria naquela noite. E porque? Porque sempre existem aqueles lugares onde os jovens não podem estar, lugares proibidos. Para ficar uma noite fora a mentira tem que ser bem elaborada.Oque posso dizer a respeito da paternidade ? Aconselho a que pensem

Ai minha amiga disse ao terapeuta que tinha de mentir sobre tudo. Porque simplesmente não suportava o vazio de não ter nada de útil a fazer, os projetos se amontoando pelos cantos. O poder de estar bem colocada no mercado e usando dinheiro ganho pelo trabalho para ser feliz e consumir bens."Como ter homens , como fazer sexo sem isso? "dizia ao terapeuta . Dizia que enganava a mãe, filha, namorado, sobre coisas que estaria fazendo, trabalhos realizados , tudo muito bem articulado. Dizia também que estaria criando um mundo falso de luxo e fantasia em contraponto com a miséria. Descobrindo e querendo viver mas que he faltavam forças , e que não podia ter forças. Minha amiga precisava agir de forma contundente ser rápida e certeira. Chorou na frente da terapeuta dizendo que era insegura. A terapeuta de 60 anos ou mais lhe disse que deveria limpar a intelectualidade de tudo e ver os sentimentos . Minha amiga jogava com a psicóloga mais uma vez. Mas admitia ter perdido. A sessão du

A Lapa ficou alegre, apesar de ainda escura e cheia de ambulantes, mudou de cara de alguns anos pra cá. A faixa etária é de jovens entre 16 e 25 anos que passeiam agitados por suas ruas centenárias. Boites de todos os tipos. Existe uma espécie de bagunça organizada ali. No Asa Branca o forró brega ribomba e ninguém sai desacompanhado. Mais adiante hip hop . Em uma outra calçada não se consegue passar, um mar de cabeças paradas conversam e bebem. Talvez fiquem ali um bom tempo. Dizer eu vou a Lapa hoje no Rio é frase impregnada de charme.Quem diz sente-se moderno e ousado.Livre e descompromissado. Ir à Lapa é mais do que uma atitude concreta é um estado de espírito. Ficar andando por ali é o mais divertido.Mais adiante bares infinitos. Uma das dezenas de portas decoradas convidando a entrar. Imaginei que a figura da foto fosse um manequim de tão imóvel que estava, mas era um homem que com trejeitos de boca e braços fazia sua performance. Outro dia vimos uma pesquisa na imprensa qu

A gente vai fazendo de conta que não acredita. Não acredita no amor. Quando aparece uma pessoa com quem nos entendemos, vai-se fingindo que não é importante.Então num surto de carência eis-nos entrando no jogo da sedução.O medo da paixão é terrível.Fica-se evitando armadilhas, fugindo do que poderia ser um prazer que possa querer repetição. Mas tudo tem seu preço.A paixão principalmente.Reprimimos o desejo de conhecer sua família e de desejar ser "a namorada".Temos medo de demonstrar fragilidade.Mas o sexo é satisfatório então pensamos:porque não,melhor ter que não ter.Mas amores fakes são chatos.Bom seria se as coisas fossem mais concretas e se permitissem existir nos intervalos e não apenas em finais de semana aleatórios.Continuassem mesmo que lentas e preguiçosas. O medo do tal envolvimento faz com que não existam ligações telefônicas para saber como estão as coisas. Sem intimidade real. Sempre me pergunto se a sensação de liberdade que precede a atitu

Vi o sempre genial Chico Buarque no especial sobre a tournée do show de lançamento em 2001 do CD/DVD Chico e as Cidades. Ele diz em um momento " eu me encontro mais nos livros que nas canções". Sim por certo, porque nas canções deixa de ser o Chico Buarque para transformar-se nos inúmeros seres humanos estampados nas letras de suas belas músicas.Eu fui apaixonada, e ainda sou, por Chico Buarque aos 15 anos de idade. Sua beleza era fascinante.Mas eu ouvia suas músicas e as apreciava. Era a soma da beleza e da sensibilidade num só canal. A cena impossível do Chico batendo à minha porta e concedendo-me um doce e profundo beijo na boca foi inúmeras vezes imaginada por mim. Com 15 anos eu amava profundamente Chico Buarque de Holanda.Ele continua lindo e suas rugas são gentis formas de agradecer ao tempo.Os arranjos belos como a leitura de um bom livro. Todos temos que conviver com o tempo e suas cobranças. Chico diz em outro momento "é preciso seguir em frent

De que seria feita a tristeza? Como ela se produz? Fluídos químicos que circulam pelo sangue produzindo melancolia, esse olhar vazio sobre as coisas. Tenho tentado administrar a minha há décadas.No amadurecimento emocional e por conta disso, algumas de nossas tristezas se perdem em ocasos pálidos. Saber administrar tristezas é um dom que poucos conquistam, ou se já nascem com ele, decerto produzirão alguma bela obra literária, musical ou ligada as artes visuais.Eu por minha conta venho ainda me iludindo que possa produzir uma tristeza matemáticamente correta.

MJ, isso é tudo Fui assistir o filme This is it, homenagem ao astro pop Michael Jackson feita pela equipe que estava preparando o que seria o seu último show. Acabamos ali porque estava esgotada a bilheteria para a estréia de 2012.Mas surpreendentemente foi uma revelação. Eu já havia lido crônica de Arthur Xexéu no JB elogiando o filme e lá o mesmo dizia estar contra quase todas opiniões recentes falando mal da película.Mas Xexéu geralmente vai contra a corrente mesmo e não levei em conta, acreditando que o filme não passaria de um remix de imagens antigas e edição emocional buscando audiência de público aos cinemas.Certamente que não. O filme mostra bastidores, depoimentos de bailarinos , uma aparição pública de MJ para anúncio do início das apresentações que aconteceriam em julho desse ano com direito a a demonstrações de afeto e veneração, apesar de seu caráter esquivo e contraditório. O filme apresenta um roteiro bem editado dos ensaios, conversas com  diretores do show, diálog

A grande maioria das pessoas é frustrada. Loucura. Mas enfim somos todos "macacos" caminhando não sei para onde! Putz acho que a influência do filme o Planeta dos Macacos parece forte.Esse filme marcou época. Foi um verdadeiro sucesso na época,1968.Nossa como sou antiga. E ver aqueles macacos se comportando como gente era incrível mesmo. As expressões,a inteligência e doçura daqueles seres impressionava e todos acabávamos por desejar ser um deles. O filme foi baseado no romance de Pierre Boulle , La planète des singes . Estrelado pelo ator Charlton Heston , o enredo trata da experiência de um astronauta sobrevivente de uma missão espacial, que aterrissa em um planeta igual à terra e descobre que uma raça de macacos domina e escraviza humanos mudos. A cena final do filme é antológica e marcou a história do cinema sendo o filme considerado um libelo anti- Guerra Fria .Voilá gente somos macaquitos. E como somos engraçados nas nossas frustrações diárias.

Sempre gostara da solidão, quimera, naufrágio, dor. A dor da poesia. Quase sempre a impotência no papel de mãe. Defeito. Um filho, sem controle. Gasta.Não dormia tranquila.O filho saia e quando estava fora bebia e fumava. Não conseguia ignorar, não conseguia achar um meio termo. Um termo tranquilo. Um acordo sobre si mesma. Para onde ir e onde chegar. Helena na metade da vida. Levantava cedo e bebia vinho. A vida monótona , sem vida social. Por isso pensava que necessitava terapia.Só pensava.Não fazia. Via pornografia na TV e não se excitava. Alguma coisa lhe excitava vagamente , mas achava tudo óbvio e se cansava. Preferia pensar que não se tratava de uma incapacidade sua. Um antigo namorado achou estranho que Helena não gostasse de olhar imagens pornográficas, quando íam ao motel.Ele ligava a TV para ver as cenas de sexo que ela achava desnecessárias.Bregas. Se ofendia. Pensava que existiam filmes mais eróticos e excitantes do que aqueles pornôs.Mas olhava indiferent