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Toque de Midas

Alguém havia lhe dito outro dia: você precisa de um beijo na boca pra acabar com essa tristeza. Fez pouco achando a visão imediatista. A vida não poderia se resumir a um simples toque. Será que como na fábula tudo se transformaria ao toque de midas ? Depois de alguns dias resolve encontrar um amigo virtual.Com ele havia mantido virtuais conversas eróticas de grande excitação . Encontram-se. E envolvidos em boa conversa, bebendo vinho em um bar, o moço lhe dá um beijo nos lábios. Há um ano Rita não beijava ninguém. Por absoluta incompetência social.Mulher madura e atraente.O ex agora amigo virtual mostrava-se loquaz e culto, queria ir para a praia a noite para seguir a conversa. Atitude adolescente. Ela recusou o convite. Achava ridículo ficar aquela hora da noite feito criança se pegando na areia da praia.Mas aquele beijo de desejo foi infinito.A vida de Rita no dia seguinte parecia mais bela. Ela havia sentido naquele beijo uma doçura nunca experimentada. Pensava que os céticos de coisas românticas diriam: mas foi só um beijo! Um beijo,uma nota musical, que aquele moço de 30 anos amante de música barroca e de Luis de Camões havia depositado em seus lábios. Aquele moço foi o Midas sem o saber. Rita ficou ardente,inundada de luz. Pensava que o mais delicioso seria manter aquela emoção suspensa por dentro por mais alguns dias. Uma espera sem desespero. Um beijo congelado para sempre. Rita voltaria ao isolamento.

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O CAMINHO DO MEDO

Deixava-se inundar pela angústia como uma roupa usada a qual se agarrava para não alcançar a felicidade. Sempre achara que não merecia ser feliz. Não conseguia sentir-se em casa naquela lugar. Sentia-se uma intrusa no meio daquelas pessoas, quase uma criminosa. Tinha sido nesse tempo que morara ali,  frágil,  envolvendo-se em conflitos com moradores da casa. C asa  acolhedora, bonita, em o a uma vila arborizada, tranquila. Poderia ter sido feliz ali, mas não. Será que ainda seria tempo A imagem que criara a incomodava,  de uma mulher quebrada financeiramente, com parentes viciados em drogas. Esquisita, desiquilibrada. Problemas no aluguel havia tido.  Precisaria ganhar mais dinheiro para sair. Mas a  depressão ia minando as iniciativas que poderiam ser tomadas para ter mais sucesso profissional. A tristeza por ver-se menos bela e desejada. Então castigava-se.  Já não suportava ficar sózinha. Questionava-se se aquilo seria produto dos seus medos, um cansaço de si. Suportar-se era o gran

Jogou fora os remédios

Nesse dia jogou fora o Rivotril na pia espirrando seu conteúdo no ralo, como uma bisnaga. O líquido viscoso com gosto bom, levemente adocicado que havia acompanhado seus dias durante uma década. Durante dois anos tentou livrar-se muito lentamente do benzoazepínico pois havia chegado ao número de 37 gotas,  equivalente a 4 comprimidos de 2mg . Tomava à noite para dormir  seis horas reconfortantes de sono. Depois de tanto sacrifício teve as recaídas. Ia buscar no posto médico um tubinho, tirava o rótulo. Por três vezes pegou o remédio para depois jogar fora.   Tinha  medo da angústia que ainda  acompanhava sua rotina. Foram várias recaídas, pingava na palma da mão  3, 4 , até 5 gotas em dias perversos. Sempre quando acordava no meio da noite cheia de medo do presente. Sabia que se ficasse com ele novamente não poderia mais seguir como planejara. Firme , enfrentando pensamentos sombrios que tornavam sua mente um lugar insuportável de estar. Nesse dia acordou sentindo no corpo uma triste

Urgência de viver

  Era uma urgência de viver tão grande que não lhe permitia pensar. Era um vozerio de tanta gente em sua cabeça que não lhe permitia gostar das pessoas. Em alguns momentos até gostava, como do filho. Um amor dolorido por que de precisar . Precisar tanto que já não servia para nada. Se buscava nos espelhos, se refazia nos olhares que lançava as pessoas na rua. Quem eram aqueles seres costas recurvadas que tanto lhe apavoravam.? Estaria ficando louca talvez. Mas não tinha certeza. O que sabia era que precisava fazer. Agir. Ter coragem de se olhar no espelho e gostar de si mesma. Por que foram tantos erros que deixara de gostar.