Deixava-se inundar pela angústia como uma roupa usada a qual se agarrava para não alcançar a felicidade. Sempre achara que não merecia ser feliz. Não conseguia sentir-se em casa naquela lugar. Sentia-se uma intrusa no meio daquelas pessoas, quase uma criminosa. Tinha sido nesse tempo que morara ali, frágil, envolvendo-se em conflitos com moradores da casa. Casa acolhedora, bonita, em o a uma vila arborizada, tranquila. Poderia ter sido feliz ali, mas não. Será que ainda seria tempo A imagem que criara a incomodava, de uma mulher quebrada financeiramente, com parentes viciados em drogas. Esquisita, desiquilibrada. Problemas no aluguel havia tido. Precisaria ganhar mais dinheiro para sair. Mas a depressão ia minando as iniciativas que poderiam ser tomadas para ter mais sucesso profissional. A tristeza por ver-se menos bela e desejada. Então castigava-se. Já não suportava ficar sózinha. Questionava-se se aquilo seria produto dos seus medos, um cansaço de si. Suportar-se era o grande desafio. Estar dentro de si, pois criara prisões mentais difíceis de romper. Essa imagem que haviam feito dela . Caia sobre suas idéias , minando toda a elevação mental. Uma força que a sufocava, solidão personificada pois já não conseguia mais comunicar-se com verdade. Não acreditava-se.
Via-se invisível neles. Não queria mais sofrer. Ser feliz era sua meta, como a de tanta gente. Dos obstáculos, o maior de todos: a solidão. Com o envelhecimento lhe rompendo a pele sentia-se mais insegura para seguir com o sorriso dos vitoriosos no rosto. A velhice anunciada, os medos antecipados, o pânico. Confiança dizia o terapeuta. Teria de exercitar a auto confiança como fazia com os músculos. Por que achava que as pessoas ali deleitavam-se com sua decadência física. No fundo incomodava, por ser assim afastada deles. Então o medo antecipava o que seria a vitória do fracasso. Via neles o que temia em si. Como se disessem: você merece ficar fraca. Uma vizinha havia dito, aquela que tem a filha especial, obesa, apaixonada por fofocas: agora você não está tão musculosa. Esse medo dos vizinhos a teria consumido durante um ano. A insegurança criava esses fantasmas. Perseguidores. Olhares de condenação que ela fantasiava. Por não ter um trabalho, por estar mal financeiramente, por ser sózinha, por não ter amigos, por estar envelhecendo. Sentia vergonha. A vergonha transmudava-se transformando-a em uma minúscula pessoa que parecia rastejar sobre a superfície do percurso de cerca de dez metros dentro da vila até sua casa. Voltar significava regressar ao fracasso. Ela havia transformado sua vida em um pesadelo diário. Queria dar um basta nisso mas não sabia como.