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O que nos iguala é a nobreza

Esse personagem inspirado no músico Nathaniel, retratado no filme O Solista e  que  teve sua carreira brilhante interrompida pela esquizofrênia, é  um exemplo de nobreza humana
O que nos faz nobres? Ter de suportar todos os dias pequenas situações desconfortáveis como ter de ouvir as baboseiras de um colega de trabalho na mesma sala.Passar por uma rotina repetitiva que inclui transporte coletivo cheio e o medo de não ver nossos sonhos concretizados.
Sim, via de regra achamos que somos mal aproveitados no trabalho ou que poderíamos render mais, ter melhores idéias. A cobrança é permanente de ambos os lados,no trabalho, no dia a dia embore ningúem demonstre. Ai está o nó da questão, temos observadores silenciosos que não demonstram suas ansiedades como nós, e esperam não ter de surprender-se com alguma demonstração de brilhantismo nosso.A vida é feita de realizações e trabalho, de muita inveja e negativismo. E  quanto mais o tempo   passa  mais consciência tomamos sobre o quanto o ser humano pode ser bom ou mau. Dessa dualidade dependemos. E com essa dualidade temos de  conviver permanentemente. Muitos sucumbem nas drogas, na depressão, no alcoolismo ou no  comodismo de uma vida sem sabor. Há  os que continuam obstinados como eu. Mas todo o ser humano é nobre porque desde o nascimento tem de cair na dura realidade das opções. Nem todos os dias são bons e a maioria dos momentos são neutros, outros vazios.



 Mas a vida vale por essa nobreza da coexistência e da sobrevivência, e naqueles momentos em que sentimos vibrar a alegria da vida,sentimos  que vale a  pena tudo, vale a pena seguir adiante até que nossos cabelos fiquem brancos e nem desejemos mais pintá-los, que não lutemos mais contra rugas e falta de  desejo sexual, que não nos importemos que o desejo do outro nos alimente, porque estaremos alimentadas por outros interesses, outras admirações. Parodiando Ivan Lins "somos todos iguais nessa noite",  o que nos iguala é a nobreza,  a dignidade  que está no  olhar do mendigo ou no olhar do prêmio nobel. Essa centelha de esperança, esse sofrimento lapidado ou não, essa teimosia de continuar  vivendo. 

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