Minha convivência com as perturbações psicológicas vem do tempo em que com 15 anos gostava de dizer pra mim mesma que era esquizofrênica.Além de achar bonita a palavra era assim que me sentia.
Um turbilhão de emoções...
desencontradas e pequena para abarcar tantas idéias e vontades. Sentia muitas pessoas dentro de mim como se possuisse duas ou mais personalidades, o que me deixava paralisada muitas vezes. A poesia que eu via na esquizofrênia me fazia ver nesse grave distúrbio psicológico apenas uma forma de expressão artística e pensava no poeta luso Fernando Pessoa que inventava personagens para si próprio. Me fixava em alguns personagens de rua, como um mendigo que para mim adolescente tinha ares de Rimbaud, cabelos crespos revoltos, miscigenado, traços de indígena com espanhol. Ele batia na nossa casa e eu dava conversa, para desespero de meu pai. Pelo que me lembro ele era meio louco. Mais tarde já com 18 anos entrei sem querer e sem saber na esquizofrênia que começava a se manifestar em um primo meu. Hóspede em sua casa para fazer o vestibular na cidade conversava muito com ele e não sei até que ponto as drogas que ele usava, a maconha e até o LSD, pois chegou a me oferecer o minúsculo comprimidinho no fundo da palma de sua mão, produziam suas fantasias ou eram apenas uma vestimenta para elas. É claro que recusei, educadamente. Ele me contava sobre um menino que via com uma bola em frente a uma casa todos os dias e como depois esse mesmo menino havia sumido. Na época acreditei mas depois vi que a alucinação já era produto de sua doença mental. Não entro em detalhes de como depois ele começou a surtar entrando de vez para o mundo dos loucos. Hoje vejo no jornal que querem criminalizar o preconceito contra pessoas com transtornos mentais caracterizando um movimento chamado de psicofobia assim como a homofobia.Segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria que lidera a campanha contra a psicofobia é comum o uso da expressão "esquizofrênico causa acidente" e nunca "diabético causa acidente" caracterizando o preconceito. Assim como tantas outras atitudes que discriminam os chamados "loucos". Alguns "loucos" entraram para a história como o mendigo carioca Gentileza, o pintor Van Gogh e tantos outros. Mas até chegarem lá penaram um tanto exatamente por serem "loucos".Quantos malucos estão por ai sem produzirem sequer uma linha que traduza seus devaneios, sem pincelarem um traço que conduza ao seu mundo de fantasia. Jogados em asilos ou como o meu primo, rejeitado pelos pais que apenas por culpa o mantém em uma clínica despreparada para tratá-lo. Como se estivesse morto para a vida. Talvez se aprovada essa lei possa favorecer a que se trate esses "perturbados" com o respeito que merecem e que possam contribuir com trabalho e energia ao invés de serem isolados do convívio humano como párias.