Pular para o conteúdo principal

Criola,mãe e mendiga


Hoje vinha pela rua do Catete e em frente a uma farmácia passava pelos mendigos que ali fazem ponto, porque existem muitos mendigos no bairro, camelôs e artesãos, por isso é um bairro diversificado e alegre. Havia uma moça negra sentada no chão com sua filha de três anos, ela bem jovem e saudável. No momento  um senhor idoso mas saudável e com boas roupas gritava com ela. Aos brados lhe mandava trabalhar e parecia que estava um pouco alcoolizado. Estava vermelho e muito indignado. Isso me deixou revoltada. Essa raiva que as pessoas tem de quem pede nas ruas. Isso é um reflexo de nossa miséria. Se ali estão é por que chegaram ao limite da humilhação pública. Já não tem nada a perder ou a ganhar. Voltei e em alto e bom som disse para espanto da pequena criança que me olhava, "tome para sua filha" oferecendo cinco reais a ela para que todos vissem.
Percebessem que não me importava com sua inoperância, ou preguiça, ou depressão, ou fosse o que fosse que a tenha colocado naquele papel de pedinte, levando consigo a própria filha. Antigamente lembro-me que me revoltava quando via mães "usando" as crianças para ganhar dinheiro, mas essa estava com a filha e afinal onde a deixaria? Talvez não tenha cabeça mais para pensar sobre isso. E o homem ali alterado com seu ódio social. Depois que viu que eu ofereci dinheiro, um prêmio aquela mulher, mais seu ódio aumentou e passou a gritar "crioula" como que a se vingar. No fundo dizendo não importa o dinheiro ela é "crioula" um ser inferior! Eu continuei com passos firmes em frente mas dizendo isso é preconceito meu senhor e dá cadeia. Isso é preconceito!! E ele continuava a gritar "crioula"!!
Nota de rodapé: Sei que o vídeo é um escracho e nada tem a ver com o conteúdo do que escrevi. Mas o escracho com o tema mendicância que o pessoal desse programa de TV fez e a procura por alguma imagem que tivesse relação com mendigos ou negros para o meu texto que não resultava em nada me levou  a postá-lo, achei muito engraçado e inusitado. Me fez pensar sobre como a beleza abre portas e portas e portas nesse país de bundas. E mendigas crioulas.
Esse é o sarcasmo que dilui tudo, transforma miséria em risada. Essa gostosa e apetitosa moça, pronta para ser servida a mesa  da lascivia é o deboche. O outro lado eu vi e não dei risada. Tem o seu objetivo, assim como os mendigos tem. E eu os respeito. 

 

Postagens mais visitadas deste blog

O CAMINHO DO MEDO

Deixava-se inundar pela angústia como uma roupa usada a qual se agarrava para não alcançar a felicidade. Sempre achara que não merecia ser feliz. Não conseguia sentir-se em casa naquela lugar. Sentia-se uma intrusa no meio daquelas pessoas, quase uma criminosa. Tinha sido nesse tempo que morara ali,  frágil,  envolvendo-se em conflitos com moradores da casa. C asa  acolhedora, bonita, em o a uma vila arborizada, tranquila. Poderia ter sido feliz ali, mas não. Será que ainda seria tempo A imagem que criara a incomodava,  de uma mulher quebrada financeiramente, com parentes viciados em drogas. Esquisita, desiquilibrada. Problemas no aluguel havia tido.  Precisaria ganhar mais dinheiro para sair. Mas a  depressão ia minando as iniciativas que poderiam ser tomadas para ter mais sucesso profissional. A tristeza por ver-se menos bela e desejada. Então castigava-se.  Já não suportava ficar sózinha. Questionava-se se aquilo seria produto dos seus medos, um cansaço de si. Suportar-se era o gran

Jogou fora os remédios

Nesse dia jogou fora o Rivotril na pia espirrando seu conteúdo no ralo, como uma bisnaga. O líquido viscoso com gosto bom, levemente adocicado que havia acompanhado seus dias durante uma década. Durante dois anos tentou livrar-se muito lentamente do benzoazepínico pois havia chegado ao número de 37 gotas,  equivalente a 4 comprimidos de 2mg . Tomava à noite para dormir  seis horas reconfortantes de sono. Depois de tanto sacrifício teve as recaídas. Ia buscar no posto médico um tubinho, tirava o rótulo. Por três vezes pegou o remédio para depois jogar fora.   Tinha  medo da angústia que ainda  acompanhava sua rotina. Foram várias recaídas, pingava na palma da mão  3, 4 , até 5 gotas em dias perversos. Sempre quando acordava no meio da noite cheia de medo do presente. Sabia que se ficasse com ele novamente não poderia mais seguir como planejara. Firme , enfrentando pensamentos sombrios que tornavam sua mente um lugar insuportável de estar. Nesse dia acordou sentindo no corpo uma triste

Urgência de viver

  Era uma urgência de viver tão grande que não lhe permitia pensar. Era um vozerio de tanta gente em sua cabeça que não lhe permitia gostar das pessoas. Em alguns momentos até gostava, como do filho. Um amor dolorido por que de precisar . Precisar tanto que já não servia para nada. Se buscava nos espelhos, se refazia nos olhares que lançava as pessoas na rua. Quem eram aqueles seres costas recurvadas que tanto lhe apavoravam.? Estaria ficando louca talvez. Mas não tinha certeza. O que sabia era que precisava fazer. Agir. Ter coragem de se olhar no espelho e gostar de si mesma. Por que foram tantos erros que deixara de gostar.