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Retorno do desejo

Porque sentir tesão é importante para quem ainda não chegou aos cinquenta anos ou para quem está na casa dos sessenta? Porque traz a sensação de que estamos vivos. Talvez um dia não  faça mais falta, estejamos preenchidos por outras e diversas emoções. Mas viver sem sentir desejo sexual por outras pessoas, é  o mesmo que  ter de conformar-se com não poder sentir o sabor da comida. Uma vez uma conhecida  disse através de sua escassa sabedoria que nenhum homem percebe nossa presença se não estivermos, nas suas palavras, abertos para o sexo.Isso seria o mesmo que dizer: somos invisíveis quando nossa auto estima está baixa.  O que significa estar aberto para o sexo? Não é sair por ai mendigando olhares masculinos , nem viver uma ansiedade permanente sem conseguir focar no trabalho. É sim perceber o outro como  possibilidade de encontro afetivo.  Devem ser os tais ferormônios. Quando existe o desejo, existe a vontade de estar com alguém, tocar, beijar, compartilhar momentos de prazer. Transar é um ato democrático. 
Se uma mulher com mais de 40 anos for isolada de estímulos visuais, se não sair de casa nunca e não olhar o próprio corpo de forma generosa, acabará por nem pensar em sexo. Assim são as mulheres. O que significa que o desejo está associada a ter um mínimo de  vida social. Um mínimo de amor próprio. A depressão pode tirar a libido. Vazio que não se consegue preencher. Quando esta sombra começa a se esfumaçar,  conseguimos antever  a alegria de viver . Aquela alegria que parecia só pertencer aos outros agora nos espreita.  Também com certeza trará com ela o retorno de nosso desejo.

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O CAMINHO DO MEDO

Deixava-se inundar pela angústia como uma roupa usada a qual se agarrava para não alcançar a felicidade. Sempre achara que não merecia ser feliz. Não conseguia sentir-se em casa naquela lugar. Sentia-se uma intrusa no meio daquelas pessoas, quase uma criminosa. Tinha sido nesse tempo que morara ali,  frágil,  envolvendo-se em conflitos com moradores da casa. C asa  acolhedora, bonita, em o a uma vila arborizada, tranquila. Poderia ter sido feliz ali, mas não. Será que ainda seria tempo A imagem que criara a incomodava,  de uma mulher quebrada financeiramente, com parentes viciados em drogas. Esquisita, desiquilibrada. Problemas no aluguel havia tido.  Precisaria ganhar mais dinheiro para sair. Mas a  depressão ia minando as iniciativas que poderiam ser tomadas para ter mais sucesso profissional. A tristeza por ver-se menos bela e desejada. Então castigava-se.  Já não suportava ficar sózinha. Questionava-se se aquilo seria produto dos seus medos, um cansaço de si. Suportar-se era o gran

Jogou fora os remédios

Nesse dia jogou fora o Rivotril na pia espirrando seu conteúdo no ralo, como uma bisnaga. O líquido viscoso com gosto bom, levemente adocicado que havia acompanhado seus dias durante uma década. Durante dois anos tentou livrar-se muito lentamente do benzoazepínico pois havia chegado ao número de 37 gotas,  equivalente a 4 comprimidos de 2mg . Tomava à noite para dormir  seis horas reconfortantes de sono. Depois de tanto sacrifício teve as recaídas. Ia buscar no posto médico um tubinho, tirava o rótulo. Por três vezes pegou o remédio para depois jogar fora.   Tinha  medo da angústia que ainda  acompanhava sua rotina. Foram várias recaídas, pingava na palma da mão  3, 4 , até 5 gotas em dias perversos. Sempre quando acordava no meio da noite cheia de medo do presente. Sabia que se ficasse com ele novamente não poderia mais seguir como planejara. Firme , enfrentando pensamentos sombrios que tornavam sua mente um lugar insuportável de estar. Nesse dia acordou sentindo no corpo uma triste

Urgência de viver

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