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Rebanho mascarado

Nunca foi tão difícil e angustiante andar pelas ruas da cidade. Homens, mulheres, idosos mascarados em quantidade nos fazem pensar na morte. O medo de morrer e de perder pessoas amadas. Assim do nada o destino virado , contaminado pela natureza de um vírus implacável e invisível. Por hora nada sabemos e essa impermanência e indefinição do que poderá ser o dia de amanhã nos tira o sono. Capitalismo e comunismo questionados e postos a prova em todos os continentes onde imperam. Sistemas políticos não conseguem segurar a natureza cruel das epidemias. A sensação de impotência é imensa. Mas a  roda precisa girar ,  não podemos seguir presos a risco de entrarmos todos em falência financeira e psicológica. Nós o rebanho, temos de sair do abrigo para sobrevivermos, o mundo online já não dá conta de nossas necessidades.Estamos fatigados de tantas lives,de exercícios físicos que surgem aos milhares colocando a prova nossa  forma física.Porque um vírus que morre com sabão e  alcóol acaba por colocar  nossas vidas pelo avesso.

Ao vislumbrar semblantes ocultos pelas máscaras temos a sensação de estarmos em um outro mundo,
uma outra cidade, e que as pessoas que passam por nós seriam apenas fantasmas. Personagens de uma ficção vulgar.
Agora passados três meses , a ansiedade para que tudo volte a ser como antes, faz com que comecemos a não acreditar mais na seriedade deste vírus. O ritual de lavagem de produtos e legumes parece inútil e triste. Sempre alguém que mora com você vai achar que  está exagerando nos cuidados, afinal o índice de recuperação é de 40 por cento e até agora você  e todos na casa estiveram imunes, inclusive a avó de 90 anos. Se quase todos estão nas ruas e muitas coisas voltaram a funcionar a sensação é a de que finalmente dominamos a fera da família dos corona vírus.Mas os próximos dias serão determinantes e os cuidados não podem parar.  

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O CAMINHO DO MEDO

Deixava-se inundar pela angústia como uma roupa usada a qual se agarrava para não alcançar a felicidade. Sempre achara que não merecia ser feliz. Não conseguia sentir-se em casa naquela lugar. Sentia-se uma intrusa no meio daquelas pessoas, quase uma criminosa. Tinha sido nesse tempo que morara ali,  frágil,  envolvendo-se em conflitos com moradores da casa. C asa  acolhedora, bonita, em o a uma vila arborizada, tranquila. Poderia ter sido feliz ali, mas não. Será que ainda seria tempo A imagem que criara a incomodava,  de uma mulher quebrada financeiramente, com parentes viciados em drogas. Esquisita, desiquilibrada. Problemas no aluguel havia tido.  Precisaria ganhar mais dinheiro para sair. Mas a  depressão ia minando as iniciativas que poderiam ser tomadas para ter mais sucesso profissional. A tristeza por ver-se menos bela e desejada. Então castigava-se.  Já não suportava ficar sózinha. Questionava-se se aquilo seria produto dos seus medos, um cansaço de si. Suportar-se era o gran

Jogou fora os remédios

Nesse dia jogou fora o Rivotril na pia espirrando seu conteúdo no ralo, como uma bisnaga. O líquido viscoso com gosto bom, levemente adocicado que havia acompanhado seus dias durante uma década. Durante dois anos tentou livrar-se muito lentamente do benzoazepínico pois havia chegado ao número de 37 gotas,  equivalente a 4 comprimidos de 2mg . Tomava à noite para dormir  seis horas reconfortantes de sono. Depois de tanto sacrifício teve as recaídas. Ia buscar no posto médico um tubinho, tirava o rótulo. Por três vezes pegou o remédio para depois jogar fora.   Tinha  medo da angústia que ainda  acompanhava sua rotina. Foram várias recaídas, pingava na palma da mão  3, 4 , até 5 gotas em dias perversos. Sempre quando acordava no meio da noite cheia de medo do presente. Sabia que se ficasse com ele novamente não poderia mais seguir como planejara. Firme , enfrentando pensamentos sombrios que tornavam sua mente um lugar insuportável de estar. Nesse dia acordou sentindo no corpo uma triste

Urgência de viver

  Era uma urgência de viver tão grande que não lhe permitia pensar. Era um vozerio de tanta gente em sua cabeça que não lhe permitia gostar das pessoas. Em alguns momentos até gostava, como do filho. Um amor dolorido por que de precisar . Precisar tanto que já não servia para nada. Se buscava nos espelhos, se refazia nos olhares que lançava as pessoas na rua. Quem eram aqueles seres costas recurvadas que tanto lhe apavoravam.? Estaria ficando louca talvez. Mas não tinha certeza. O que sabia era que precisava fazer. Agir. Ter coragem de se olhar no espelho e gostar de si mesma. Por que foram tantos erros que deixara de gostar.