Começou ouvindo vozes no seu apartamento em Porto Alegre. Dizia aos filhos ao telefone que ouvia sempre o mesmo homem murmurando. Achavam que era porque morava só há bastante tempo e que poderia ser um efeito normal do envelhecimento. Já então contava com seus quase 80 anos. Ela vinha uma vez ao ano ao Rio de Janeiro. Em uma destas ocasiões, deu-se o inevitável Dona Aparecida teve um surto psicótico. Voltava um dos filhos do trabalho e ao entrar na casa deparou-se com o irmão, sobrinhas, cunhada sentados solenes ao lado de Dona Aparecida no sofá da sala atentos todos a televisão. Cordatos com a história imaginária que a mente da velha senhora havia criado. História com pormenores que impressionavam. Dizia estar sendo monitorada por homens encarcerados donos de poderosa máquina dentro da cela. O artefato clandestino emitia ondas eletromagnéticas que entravam em seu cérebro dando-lhe ordens e vendo através de seus olhos. Ela estava calma e realmente acreditava naquilo tudo. Sentia-se agora na obrigação de denunciá-los a polícia. Inúmeras ligações foram feitas ao Jornal Correio do Povo de Porto Alegre. Dona Aparecida era assinante do jornal e queria que eles soubessem em primeira mão que presidiários haviam desenvolvido uma engenhoca para espionar o cérebro das pessoas e em especial o dela. Seus pudores apareciam quando dizia que não andassem sem roupa pela casa, ''eles'' os bandidos estavam vendo tudo.Todos mantiveram a encenação. Aconselhados por psiquiatra conhecido que consultado ás pressas receitou Olanzapina. Informada a idosa que a notícia sairia em manchete no jornal, queria saber se de fato havia sido publicada. Outras tantas ligações para pessoas amigas foram feitas para acalmar Dona Aparecida. Dizia estar com medo de voltar para casa, seria um escândalo, a imprensa inteira e o povo estariam a sua espera. Uma senhora que descobre e denuncia tamanho disparate tecnológico, planejado por detentos merecia todo o destaque. Compraram sem receita e por um valor três vezes maior a tal de Olanzapina , remédio tomado por esquizofrênicos e usado para outros distúrbios do cérebro. Com isso , disse o médico, ela vai esquecer completamente de tudo. Depois com os anos a depressão apressada por fatores familiares foi se espalhando pela existência de Dona Aparecida. Em vão tentava buscar alguma doença, queria estar internada em um hospital. Uma certa ardência ou calor perto do coração e que ás vezes subia para a cabeça eram as queixas dos últimos três anos. Vários médicos, remédios antidepressivos e não se conformava que não existisse alguma doença grave em seu corpo. Entrava em pânico olhando para as mãos que tremiam quando acreditava que estava tendo algum mal súbito. Chamaram uma equipe de enfermagem em casa. Todos os seus sinais vitais estavam bons e desconsoladamente depois de uma longa conversa com a enfermeira, caiu em si. Noventa anos sem diabetes, dores de cabeça, doença cardíaca, ou qualquer outro mal Dona Aparecida seguia vivendo sem ter prazer em quase nada. Só via consolo nas comidas, principalmente nos doces. Conviver com algo que não entendia, a tristeza profunda no lado esquerdo do peito parecia ser um incômodo que deveria aceitar.
Começou ouvindo vozes no seu apartamento em Porto Alegre. Dizia aos filhos ao telefone que ouvia sempre o mesmo homem murmurando. Achavam que era porque morava só há bastante tempo e que poderia ser um efeito normal do envelhecimento. Já então contava com seus quase 80 anos. Ela vinha uma vez ao ano ao Rio de Janeiro. Em uma destas ocasiões, deu-se o inevitável Dona Aparecida teve um surto psicótico. Voltava um dos filhos do trabalho e ao entrar na casa deparou-se com o irmão, sobrinhas, cunhada sentados solenes ao lado de Dona Aparecida no sofá da sala atentos todos a televisão. Cordatos com a história imaginária que a mente da velha senhora havia criado. História com pormenores que impressionavam. Dizia estar sendo monitorada por homens encarcerados donos de poderosa máquina dentro da cela. O artefato clandestino emitia ondas eletromagnéticas que entravam em seu cérebro dando-lhe ordens e vendo através de seus olhos. Ela estava calma e realmente acreditava naquilo tudo. Sentia-se agora na obrigação de denunciá-los a polícia. Inúmeras ligações foram feitas ao Jornal Correio do Povo de Porto Alegre. Dona Aparecida era assinante do jornal e queria que eles soubessem em primeira mão que presidiários haviam desenvolvido uma engenhoca para espionar o cérebro das pessoas e em especial o dela. Seus pudores apareciam quando dizia que não andassem sem roupa pela casa, ''eles'' os bandidos estavam vendo tudo.Todos mantiveram a encenação. Aconselhados por psiquiatra conhecido que consultado ás pressas receitou Olanzapina. Informada a idosa que a notícia sairia em manchete no jornal, queria saber se de fato havia sido publicada. Outras tantas ligações para pessoas amigas foram feitas para acalmar Dona Aparecida. Dizia estar com medo de voltar para casa, seria um escândalo, a imprensa inteira e o povo estariam a sua espera. Uma senhora que descobre e denuncia tamanho disparate tecnológico, planejado por detentos merecia todo o destaque. Compraram sem receita e por um valor três vezes maior a tal de Olanzapina , remédio tomado por esquizofrênicos e usado para outros distúrbios do cérebro. Com isso , disse o médico, ela vai esquecer completamente de tudo. Depois com os anos a depressão apressada por fatores familiares foi se espalhando pela existência de Dona Aparecida. Em vão tentava buscar alguma doença, queria estar internada em um hospital. Uma certa ardência ou calor perto do coração e que ás vezes subia para a cabeça eram as queixas dos últimos três anos. Vários médicos, remédios antidepressivos e não se conformava que não existisse alguma doença grave em seu corpo. Entrava em pânico olhando para as mãos que tremiam quando acreditava que estava tendo algum mal súbito. Chamaram uma equipe de enfermagem em casa. Todos os seus sinais vitais estavam bons e desconsoladamente depois de uma longa conversa com a enfermeira, caiu em si. Noventa anos sem diabetes, dores de cabeça, doença cardíaca, ou qualquer outro mal Dona Aparecida seguia vivendo sem ter prazer em quase nada. Só via consolo nas comidas, principalmente nos doces. Conviver com algo que não entendia, a tristeza profunda no lado esquerdo do peito parecia ser um incômodo que deveria aceitar.