Amanda resolveu ir ao psicólogo. Ligou perguntando se lhe seria cobrada consulta. A moça disse que o melhor era falar disso depois. Técnica utilizada por psicólogos: não falar em valores na primeira conversa, isso já estaria envolvendo o paciente, trazendo-o para a consulta pensava Amanda. No dia determinado entrou na saleta alugada em um prédio comercial do Catete, sentindo-se totalmente inadequada. A mulher ainda era jovem, essa terrível doença , velhice estaria em segundo plano ali. Pela primeira vez ao defrontar-se com um psicólogo sentiu cansaço para falar. Não sabia por onde iniciar o discurso, eram tantos os fios, tantas histórias. Carregava um livro grosso nas costas. Um livro que a fazia curvar-se diante da vida. A psicóloga não falava, apenas fazia um som com a boca que a irritou. Parecia estar ruminando expectativas. Ali estava com um nome falso, seria mais fácil escapar caso não gostasse. Precisava saber por que sentia tanta tristeza, como se tudo tivesse sido inútil. Uma noite com sonhos, uma manhã cheia de esperança. Acordar sentindo fé na vida , nas pessoas. Isso há muito não sentia. Amargava uma solidão antiga. Semeara a desconexão com os outros. Desandou a falar disfóricamente como sempre o fazia quando encontrava psicólogos. Começando por descrever seu ódio pelas pessoas que ultimamente corroia seu ânimo. Deveria ser algo neurológico pois racionalmente condenava isso, mas não entendia por que o sentia. Foi muito desagradável , amarga. Era penoso estar ali em frente aquela estranha. Precisar disto. Será que tinha algum problema de saúde que ia além de sua inteligência? Essa sensação de que poderia morrer, desmaiar a qualquer momento a perseguia. Sentia muita culpa por estar viva, saudável. Era um dos motivos que a impulsionavam a querer mudar de país. A mulherzinha encerrou a conversa suavemente perguntando se ela gostaria de continuar com os encontros. Amanda disse que não havia jeito, estava esgotada, necessitava alguém para entender o que estava se passando com ela. A mulher disse que a sessão sim seria cobrada. Acordaram que seria 100 reais. Apesar da psicóloga ter dito que não havia mensurado o tempo, a conversa durou exatamente 50 minutos, o tempo de uma consulta. Conversa não, pois Amanda havia desfiado seu monólogo de lamentações. No outro dia bloqueou a moça no celular , excluiu o contato, não pagou a sessão. Sentiu-se lograda.
Deixava-se inundar pela angústia como uma roupa usada a qual se agarrava para não alcançar a felicidade. Sempre achara que não merecia ser feliz. Não conseguia sentir-se em casa naquela lugar. Sentia-se uma intrusa no meio daquelas pessoas, quase uma criminosa. Tinha sido nesse tempo que morara ali, frágil, envolvendo-se em conflitos com moradores da casa. C asa acolhedora, bonita, em o a uma vila arborizada, tranquila. Poderia ter sido feliz ali, mas não. Será que ainda seria tempo A imagem que criara a incomodava, de uma mulher quebrada financeiramente, com parentes viciados em drogas. Esquisita, desiquilibrada. Problemas no aluguel havia tido. Precisaria ganhar mais dinheiro para sair. Mas a depressão ia minando as iniciativas que poderiam ser tomadas para ter mais sucesso profissional. A tristeza por ver-se menos bela e desejada. Então castigava-se. Já não suportava ficar sózinha. Questionava-se se aquilo seria produto dos seus medos, um cansaço de si. Suportar-se era o gran