Uma boa senhora que andava por ali e para quem tirei fotos junto ao Sr.Obelisco,retribuiu tirando fotos minhas e contando sua história que é a de milhares de peruanos, bolivianos e chilenos que moram na cidade. Deixou as filhas pequenas com o pai na Bolívia e veio trabalhar em BA só que vai voltar por que disse não estar compensando, já que o dinheiro argentino está muito desvalorizado, talvez seja o mais desvalorizado na América Latina no momento. Isso é triste para um povo tão orgulhoso de sua história.
Andando pelas ruas de Buenos Aires procuro captar um pouco do que seja a sociedade porteña. Estamos no inverno e reparo que as roupas que utilizam geralmente são escuras, casacos e vestuário, difícil ver alguém com um casaco estampado por exemplo ou vermelho, e as pessoas andam muito sérias, talvez por que afinal tem passado por poucas e boas durante os últimos governos. E a tensão constante com o aumento de preços é algo que muda o comportamento no dia a dia. Um conhecido me comentou que esteve em BA no verão e quase não viu ninguém de chinelos. A discrição no vestir tem a influência européia.
Enfrentam uma inflação que traz insegurança e compram como loucos dólares que são vendidos tanto no mercado oficial como no ilegal, que ironicamente mesmo sendo ilegal, traz cotação nos jornais e diáriamente nos meios de comunicação. O oficial é vendido por menos e no ilegal o chamam de dólar blue, sempre valendo mais, a diferença é que não é controlado, pois a venda para cada cidadão é feita por cotas quando vendido pelo governo. Essa dolarização do mercado eu acredito, faz com que o dinheiro argentino fique cada vez mais desvalorizado, inclusive as moedas estão sumindo e vi ate anúncios em alguns estabelecimentos de -compra-se moedas-. Isso é triste, esse digamos desprezo pelo dinheiro do país e sua desvalorização. Em conversas com alguns argentinos, argumentaram que esse fenômeno se origina da insegurança, do medo de que de alguma maneira o país volte a cair na recessão como em 2001 quando os argentinos passaram fome e muitas dificuldades. Então tratam de juntar dólares para sentirem-se mais seguros. Sobre isso tenho uma história singular. Em um dia em que me encontrava no bairro de Palermo, equivalente a Ipanema, e um homem de mais ou menos 68 anos de idade, andando de bicicleta mas a pé, puxou assunto comigo pois estávamos trabalhando parados com a equipe em uma esquina.Soube que eu era brasileira, e de maneira agressiva reclamou do fato de que tudo na cidade especialmente no mercado imobiliário estava sendo negociado em dólares! Falou quase gritando e percebia-se que sua revolta era parte de uma loucura, ele tinha uma aparência outsider.Terminou dizendo que fora da província de BA ainda por sorte se podia comprar uma casa em pesos.Saiu sem mais nada, da mesma forma antipática com sua bicicleta vociferando contra os dólares.
Prédios italianos, franceses e espanhóis lindos. Prédios tradicionais: Teatro Colón, Palácio das Águas Correntes,
Igreja do Pilar, Catedral Metropolitana, Casa Rosada, Congresso
Nacional, até a instituição responsável pela água da cidade tem um prédio de uma arquitetura invejável. Modernistas, como o Yacht Club Argentino, o Palácio Barolo
–primeiro arranha-céu, inspirado na Divina Comédia e, na Costaneira
Sul, a antiga cervejaria Munich, hoje Direção de Museus da Cidade e a sede
do Museu do Humor. De influência francesa, como o Círculo Militar, a
Chancelaria e os hotéis da Avenida Alvear. A arquitetura contemporânea
tem excelentes representantes em obras como o magnífico Teatro San
Martín da Avenida Corrientes, ou o edifício Los Eucaliptos e o Somisa no
bairro de Belgrano. Verdadeiras obras de arte, como do ex Banco de Londres, a Biblioteca Nacional e o Museu Solar. Além disso, existem esplêndidas torres de apartamentos: o
Edifício República da Praça Roma, o edifício Conurban e a Torre YPF em
Puerto Madero. Muitos destes não pude apreciar.
Mas, ainda que pareça muito, tudo isso não é nada, se esquecemos de
mencionar o mais simples: as centenas de “casas chorizo” (casas com
estilo colonial com um pátio central onde desembocam todos os
ambientes), de porte italiano, distribuídas por todos os bairros da
cidade. E principalmente se não consideramos o racionalismo, estilo que
provávelmente seja o que sintetize melhor a personalidade da arquitetura
da cidade de BA. É claro que, se falarmos de racionalismo, seu símbolo é o prédio paradigmático Kavanagh, um dos primeiros arranha-céus de concreto do
mundo, cheio de detalhes belíssimos, cujos apartamentos foram
considerados os mais exclusivos da cidade desde 1935. É quase impossível
pensar como seria a imagem da Praça San Martín sem ele. Ou a Recoleta,
sem os seus prédios de esquinas curvadas, sem os seus terraços abertos,
sem os mármores requintadamente austeros dos portais. Bom eu não tive tempo para apreciar tudo isso. Mas percebi como os argentinos valorizam seus prédios e tentam resguardar como na decoração dos hotéis do centro da cidade, relógios antigos e é difícil ver um hotel com decoração modernista.
Definitivamente, a arquitetura é um dos aspectos que tornam Buenos Aires uma cidade singular.
Por tudo isso considero que é impossível sentir-se como em uma grande metrópole. As ruas são largas e amplas e muitas das avenidas principais atravessam toda a capital práticamente como a 9 de Julio. Buenos Aires não perdeu sua elegância, poucos são os mendigos nas ruas ao contrário do que se vê no RJ e as lixeiras estão todas em seu lugar e até essas tem sua elegância. Nesses dias me chamaram a atenção certos papéizinhos colados em todas as lixeiras as centenas e todos iguais fazendo propaganda de uma mesma mulher desnuda com um telefone, no Brasil temos mais variedade e isso é engraçado. Porque não se trata de uma vantagem.A bagunça aqui é maior. Bicicletas em BA nem tantas. Praças muitas. As casas de milongas são populares como centros para bailar. Como se fosse o mesmo que dizer vamos a Lapa? Quase como boates só que com rítmos folclóricos, cubanos e de compositores pop argentinos.Há centenas delas e muitos compositores argentinos de hip hop e pop dos quais nunca ouvimos falar. A latinidade aqui é maior porque existem muitos chilenos, bolivianos e peruanos vivendo na cidade e eles escutam o que se faz nesses países,as rádios tocam essas músicas, enquanto que no Brasil impera a música americana e a brasileira sómente.
Sinto que lá a América Latina e sua cultura, principalmente a música e a história, se faz presente com mais força. Geográficamente todos os países que circundam o Brasil juntos fazem o seu tamanho isso pode ser um fator que influencia essa conectividade das culturas.
É fácil locomover-se pela cidade, tudo parece ser bem organizado e as ruas cruzam-se sempre em linhas paralelas. O Centro turístico chamado Microcentro foi planejado para turistas com Locutórios, kioskos, cambistas por todo lado e uma rua, a Florida que funciona com seu comércio até a noite nos domingos. Não existem negros os que estão por ali são nigerianos bem pretos e todos os que vi vendem óculos ou bolsas, que detalhe estranho. Mesmo em outros bairros mais afastados, o mesmo, só os negros vendem óculos e bolsas. Os camêlos são muito antipáticos e alguns bravos. Sente-se no ar a tensão gerada pela inflação e a ganância. Dizem que existem muitas favelas chamadas villas mas estão afastadas da cidade nos arredores e logo na entrada perto da rodoviária. A mais famosa chama-se 32 vejam só. Até nisso eles não perdem a elegância a escolha dos nomes das favelas.Os ônibus parecem brinquedos de criança devido as suas cores e modelos antigos, o metrô nem se fala, os carros na maioria tem 100 anos. O bonito é que eles conservam as entradas do metrô com muradas de ferro talhado.As paredes dentro dos túneis mantém os azulejos centenários. Talvez tenha sido o único lugar onde me senti literalmente sufocada quando no horário de rush lá pelas seis horas da tarde as várias escadas que fazem conexões malucas para as linhas A,B,C,D,E,F sendo que cada letra possui suas conexões, como em um labirinto, ficam apinhadas de milhares de pessoas andando muito rápido e como os corredores são afunilados a sensação é claustrofóbica.