Por que se importar tanto com árvores? Afinal de contas metade da Amazônia já foi devastada e queimada, o aquecimento global que nos levará a morte será inevitável e as geleiras a cada árvore cortada vão perdendo seu poder de reguladoras do clima do planeta. Essas volumosas árvores que tomam conta de nossas calçadas, riscando o céu com suas folhas que nos protegem do sol. São muitas no bairro em que moro. É uma das características do Bairro das Laranjeiras, situado na zona sul do Rio de Janeiro.Cada calçada chega a ter cinco árvores frondosas, centenárias. Mas o tempo vai passando , a galharia atrapalha o comércio que vai surgindo, abre espaço para carroças de churrasquinho, para que melhor se visualize fachadas de lojas, para que se tenha menos medo de assaltos, afinal assaltantes se escondem atrás de árvores, pelo menos em desenhos animados.E assim vejo assustada e triste a lenta extinção do que nos faz viver, do que alimenta o planeta e nos protege do futuro e previsível aquecimento global. A prefeitura da cidade do Rio de Janeiro cede e manda seus funcionários de cor laranja com serras e caminhões melhorar a paisagem do bairro cortando suas árvores lindas e centenárias, como quem corta verduras. Houve uma tarde em que não me contive, era final do dia e chovia fino. Lá estavam eles, com serras em punho, prontos a decapitar uma das mais antigas árvores do bairro, linda , cheia de vida e esplendor. Em frente a um pequeno comércio em plena rua das Laranjeiras. Comecei a questionar com os funcionários sobre a necessidade de que isto fosse feito. Cheguei mesmo a me revoltar. O engenheiro responsável mostrava papéis aos poucos que passavam e se deram ao trabalho de tentar ou esperar que algo acontecesse em favor daquela árvore.Dizia o engenheiro que estava condenada.Mas como poderia estar condenada , se via brilho nas suas raízes e nas suas entranhas, a madeira rosada e lisa. Mas não houve jeito, até a síndica do prédio desceu para explicar que não houve propina e que os moradores não estavam se incomodando mas que havia sido feito uma laudo. Eu me pergunto , quem solicitou este laudo que decretava o fim daquele caule de vegetal lenhoso com rugas centenárias. Não tive coragem de assistir a matança. Mas esta não havia sido a única , anteriormente havia sido decapitada outra ali perto e o motivo segundo o porteiro teria sido a reclamação de um morador de que morcegos estariam entrando em seu quarto.
Esta última acima, foi corte recente, na esquina com Pereira da Silva, não se deram ao trabalho de cortá-la até o fim, se é que foram os funcionários da prefeitura que o fizeram por que ficou cortada bem no meio e somos obrigados a olhar aquele caule com cerca de um metro decapitado a nossa frente na calçada, como uma afronta ao bairro. Uma pergunta sem resposta. A AMAL, Associação dos Moradores de Laranjeiras, tem se mostrado inoperante quanto a estas depredações do que é um dos maiores bens de nosso bairro, ás árvores ao longo da Rua das Laranjeiras. Se suas raizes rebentam calçadas, que adaptem as calçadas a elas e não o contrário, cobrindo de concreto a natureza. Sei que a AMAL tem se esforçado em diversos quesitos no que se refere a cultura, mas não vejo participação dos moradores nisto, muito pouca. Por que não participamos mais desta Associação me pergunto? Por que nos omitimos e não queremos perder nosso tempo com a vida da natureza? A tristeza de ver nosso bairro sendo paulatinamente desprovido de árvores é mais uma pá de cal nos nossos sonhos por um país melhor. Aqui a preocupação com o meio ambiente ainda soa como superficial.