Pular para o conteúdo principal

Só as mulheres histéricas são capazes de amar

Pulsão de morte, significante, signo, sexuação, palavras sedutoras...Houve uma época em que me envolvi com a Psicanálise profundamente.Talvez porque sua alma esteja no verbo, no verbalizar a neurose. Participava de cartéis, espécie de encontros semanais fechados onde um mentor, geralmente doutorando, figura respeitadíssima no meio, faz análise conjunta de livros e tópicos de publicações de Lacan ou relacionadas. A maior parte dos participantes já são psicólogos formados e terapeutas eu era uma curiosa ali por que os cartéis são abertos ao público, mas é preciso ser estudante de psicologia ou cara de pau como eu. Se se começa a estudar sobre Lacan fica-se um pouco louco.
Por que ele era um pouco diverso nas suas teorias. Por muitos  considerado uma espécie de charlatão e farsante, um copista. Suas sessões não duravam mais de dez minutos e ele mudava o padrão, em certas épocas resolveu que deveriam durar mais ou menos ainda. Tentou criar fórmulas matemáticas esquisitíssimas para  definir "o gozo", palavra mais do que usada e abusada na linguagem psicanalítica. Era comum que eu me sentisse muitas vezes distante da minha realidade com tudo isso na cabeça, e talvez estivesse mesmo tentando fugir. Fiquei com algumas anotações em cadernos perdidas.
"A perda do amor nas mulheres seria semelhante a sentimento de castração nos homens." Que frase maravilhosa essa e tão definitiva. Perdíamos um bom tempo analisando palavras, uma das paixões dos lacanianos. A etimologia como a diferença entre o "existir" e o "subsistir". Lacan dá um outro sentido ao "existir", segundo ele, quando diz que o grande problema da feminilidade está na disfunção entre seus atributos. O que se atribui a feminilidade e ao ser, ao existir. A feminilidade seria um conceito fantasma. Já que segundo Lacan, a mãe nunca poderá conceder a filha a essência da feminilidade, que terá para com a mãe uma desmedida reivindicação de amor que não será nunca suprida da forma ideal. Essa "falta" irá se transformar em ódio. Na lógica lacaniana: a articulação entre pulsão e amor será  igual a "subsistência". A filha não existe mas subsiste. A vida será sempre a busca pelo "impossível". Na ilusão do possível. Ai está uma das fórmulas copiadas por mim :
http://www.scielo.br/pdf/epsic/v16n2/v16n2a02 

Fórmula muito doida para definir sexuação.... Se quiserem saber a explicação disso cliquem no link da figura lá tem um texto interessante que desvenda o mistério. A grande discussão psicanalítica sobre a famosa "castração".
 Continuando com minhas anotações, escrevi que "todo gozo masculino responde a articulação da função fálica enquanto que o nosso gozo, o feminino não está sujeito a universalização." Será que os psicanalistas são machistas? Dizem que "as mulheres são inclassificáveis." Segundo um dos gurus da psicanálise J.A.Millier a mulher só poderá realizar seu ser, ou seu existir,  através das psicoses. "A paixão por outra mulher seria "histérica" por excelência. "A demanda de amor pelas mulheres é sempre de  um a um-a um. Produto de mal entendidos nas relações entre mãe e filha. Ou de filha e pai." Que fique claro para os leigos que "signo não é o mesmo que significante". Outra palavra ícone dos psicanalistas : significante. Pois segundo o mestre Lacan, "não existe fumo sem fogo. O fumo é o signo e o significante vai sempre se articular com outro significante." Dai eu deduzo que esse significante seria o fogo!! Nas minhas anotações eu continuo: "Nem sempre um significante está relacionado a uma presença...." Achei bonita essa frase. Depois em seguida escrevi outra: "O amor é sempre incerto para as mulheres como o signo." Dai vem o  melhor: "Só a mulher psicótica consegue sentir totalmente o amor o o ódio fulminante." E eu finalizo com uma jóia de frase: "O amor necessita do discurso amoroso e das cartas de amor."
Essa página incerta guardada dentro dos meus livros produto de uma das classes a que fui e palestras várias quando estava apaixonada pela psicanálise.  Eu ainda gosto muito e precisava jogar fora tal papel.Concluo que os sentimentos para os psicanalistas são a matéria prima do seu trabalho. A busca pelo impossível e a pulsão de morte é o que nos impele a viver e sonhar cada vez mais.

Postagens mais visitadas deste blog

O CAMINHO DO MEDO

Deixava-se inundar pela angústia como uma roupa usada a qual se agarrava para não alcançar a felicidade. Sempre achara que não merecia ser feliz. Não conseguia sentir-se em casa naquela lugar. Sentia-se uma intrusa no meio daquelas pessoas, quase uma criminosa. Tinha sido nesse tempo que morara ali,  frágil,  envolvendo-se em conflitos com moradores da casa. C asa  acolhedora, bonita, em o a uma vila arborizada, tranquila. Poderia ter sido feliz ali, mas não. Será que ainda seria tempo A imagem que criara a incomodava,  de uma mulher quebrada financeiramente, com parentes viciados em drogas. Esquisita, desiquilibrada. Problemas no aluguel havia tido.  Precisaria ganhar mais dinheiro para sair. Mas a  depressão ia minando as iniciativas que poderiam ser tomadas para ter mais sucesso profissional. A tristeza por ver-se menos bela e desejada. Então castigava-se.  Já não suportava ficar sózinha. Questionava-se se aquilo seria produto dos seus medos, um cansaço de si. Suportar-se era o gran

Jogou fora os remédios

Nesse dia jogou fora o Rivotril na pia espirrando seu conteúdo no ralo, como uma bisnaga. O líquido viscoso com gosto bom, levemente adocicado que havia acompanhado seus dias durante uma década. Durante dois anos tentou livrar-se muito lentamente do benzoazepínico pois havia chegado ao número de 37 gotas,  equivalente a 4 comprimidos de 2mg . Tomava à noite para dormir  seis horas reconfortantes de sono. Depois de tanto sacrifício teve as recaídas. Ia buscar no posto médico um tubinho, tirava o rótulo. Por três vezes pegou o remédio para depois jogar fora.   Tinha  medo da angústia que ainda  acompanhava sua rotina. Foram várias recaídas, pingava na palma da mão  3, 4 , até 5 gotas em dias perversos. Sempre quando acordava no meio da noite cheia de medo do presente. Sabia que se ficasse com ele novamente não poderia mais seguir como planejara. Firme , enfrentando pensamentos sombrios que tornavam sua mente um lugar insuportável de estar. Nesse dia acordou sentindo no corpo uma triste

Urgência de viver

  Era uma urgência de viver tão grande que não lhe permitia pensar. Era um vozerio de tanta gente em sua cabeça que não lhe permitia gostar das pessoas. Em alguns momentos até gostava, como do filho. Um amor dolorido por que de precisar . Precisar tanto que já não servia para nada. Se buscava nos espelhos, se refazia nos olhares que lançava as pessoas na rua. Quem eram aqueles seres costas recurvadas que tanto lhe apavoravam.? Estaria ficando louca talvez. Mas não tinha certeza. O que sabia era que precisava fazer. Agir. Ter coragem de se olhar no espelho e gostar de si mesma. Por que foram tantos erros que deixara de gostar.